Decisão vai na contramão de pesquisas científicas e análises de agências reguladoras internacionais
Sem estudos científicos conclusivos, o Ministério da Saúde ampliou o uso da cloroquina, permitindo agora a aplicação em grávidas, puérperas, crianças e adolescentes. Apesar da permissão do governo federal, fica a critério de médicos prescreverem ou não o medicamento. No caso de crianças, é necessário que pais ou responsáveis concordem com a aplicação. De acordo com o Ministério da Saúde, a decisão foi amparada em pesquisas e em protocolos de tratamento de outros países, como Turquia, Índia e Estados Unidos. Contudo, o uso não é mais permitido no país norte-americano. Na última semana, a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, a U.S. Food & Drug Administration (FDA), revogou a permissão de uso emergencial da cloroquina em pessoas infectadas pelo novo coronavírus. O argumento da agência americana é que não há evidências científicas sobre a eficiência da droga. Também argumenta que o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina é arriscado por causar problemas cardíacos nos pacientes.
Também na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS), que realizava experimentos para checar a efetividade da hidroxicloroquina, decidiu interromper os testes após não encontrar benefícios no uso da droga. O estudo conta com a participação de 400 hospitais em 35 países.
Frente a esse contexto, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) se posicionou contrária à decisão do governo federal. De acordo com a sociedade médica, não há confirmação sobre possíveis efeitos terapêuticos positivos da cloroquina contra a Covid-19 e os possíveis efeitos colaterais não foram mensurados com exatidão.
Reportagem: Daniel Marques
Jornalista brasiliense formado pela Universidade de Brasília (UnB), com passagens em redações da capital. Trabalhou como repórter no Correio Braziliense e Rádio CBN, além de agências de comunicação. Atualmente, integra a redação do Brasil 61 com pautas de saúde e política.