13 milhões de pessoas vivem com a doença, segundo Sociedade Brasileira de Diabetes; em 2019, crescimento entre idosos com 65 anos ou mais foi de 23%
Antes mesmo de completar um ano de idade, a gerente de marketing digital Giovanna Figueiredo, de 27 anos, foi diagnosticada com diabetes. A mãe dela descobriu a doença após Giovanna ter uma crise convulsiva, entrar em coma e ficar internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Eu tinha crises convulsivas. Os médicos suspeitavam que fosse meningite, que poderiam ser outros problemas porque eu ficava com falta de ar. Só que isso não diz que é sintoma do diabetes. Quando descobriram, eu entrei com quase 500 de glicemia (nível muito alto de glicose no sangue). Entrei direto em coma e fui parar na UTI”, diz Giovanna.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, assim como a jovem, 13 milhões de brasileiros vivem com a doença que é causada pela produção insuficiente ou má absorção de insulina (hormônio que regula a glicose no sangue e garante energia para o organismo). Os números fazem do Brasil o quarto país no ranking mundial com maior número de diabéticos, atrás da China, da Índia e dos Estados Unidos. Os dados são da International Diabetes Federation (IDF).
Entre 2006 e 2019, o percentual de diabéticos entre a população brasileira subiu 34,5%, de acordo com informações do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2020. Cenário que reforça a necessidade de acompanhamento médico regular.
“Vou ao médico de quatro em quatro meses. Faço uma bateria de exames. Pelo meu histórico de quase 30 anos, já era para meu quadro ser bem mais grave, mas está tudo normal”, conta Giovanna.
Outro dado da pesquisa coordenada pelo Ministério da Saúde que chama a atenção é que o número de brasileiros com a doença aumenta conforme a idade. Apenas no ano passado, houve crescimento de 23% de diabéticos entre adultos com 65 anos ou mais.
Tipos
O tipo 1 do diabetes, que acomete principalmente crianças, adolescentes e adultos jovens, faz com que o sistema imunológico do corpo ataque e destrua as células que produzem insulina. Por isso, pessoas com diabetes tipo 1 necessitam de aplicação diária de insulina.
Já o tipo 2, o mais frequente entre a população, geralmente ocorre na fase adulta. Esse tipo inter-relaciona a deficiência na produção de insulina com a resistência à ação do hormônio no organismo.
“O diabetes tipo um depende de insulina externa para manter a vida. Se não receber insulina, morre. O diabetes tipo 2 tem uma influência genética muito importante. São muitos genes envolvidos que a gente até hoje não conseguiu identificar”, explica o endocrinologista e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), Laércio Joel Franco.
“O tipo 2 está muito ligado ao excesso de peso. É o tipo que mais vem crescendo nos últimos anos, muito também por conta do sedentarismo, alimentação não saudável. Tudo isso colabora”, completa.
Existe ainda a situação chamada de pré-diabetes, que ocorre quando as taxas de açúcar de uma pessoa estão acima do normal, mas ainda não atingiram os níveis que caracterizam a doença. Essa situação pode ser assintomática, o que ressalta a importância de exames periódicos para medir a glicemia.
“Para reverter essa situação de pré-diabetes, a pessoa deve novamente buscar modificações no estilo de vida. Do controle das emoções à prática de atividade física, mas, sobretudo, privilegiar consumo de frutas, legumes, vegetais, e evitar consumo de gorduras saturadas e produtos industrializados”, orienta a endocrinologista Liziane Leite.
Covid-19
Segundo o Ministério da Saúde, o diabetes é um dos fatores de risco para o coronavírus. A resposta imunológica de pessoas diabéticas aos quadros infecciosos tem limitações. A doença em si não aumenta a possibilidade de infecção pelo vírus, mas pode acarretar no desenvolvimento de complicações.
“Todas as infecções, como vírus, bactérias, fungos, são risco, principalmente, se o diabetes não estiver bem controlado. O tempo de pandemia é um alerta para que pessoas diabéticas mantenham o controle do diabetes. Se estiver bem controlado, o risco diminui”, esclarece o professor Laércio Joel Franco.
Outra complicação do diabetes está relacionada ao coração. A glicose elevada acelera o endurecimento das artérias e danifica os vasos, podendo levar a doenças cardiovasculares. A dona de casa Bernadete Jesus, de 71 anos, descobriu que era diabética do tipo 2 há mais de duas décadas. Em 2014, ela precisou ser levada às pressas para o hospital.
“Meu coração parou de funcionar. Isso vai muito do psicológico. Estava passando por uma fase difícil na família. Fiquei cinco dias internada. O diabetes estava muito alto. Estava tomando um diurético que eliminou todo o potássio do organismo. Para mim, era o fim do mundo ser diabética. Eu era uma pessoa saudável”, lembra dona Bernadete.
No Brasil, a Lei nº 11.347/06 estabelece que os portadores de diabetes recebam, gratuitamente, os medicamentos para o tratamento de sua condição por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), como materiais necessários à sua aplicação e à monitoração da glicemia capilar (teste feito com auxílio de um aparelho que realiza a análise de uma pequena gota de sangue retirada da ponta do dedo).
No ano passado, uma lei sancionada pelo governo federal determinou uma nova Política Nacional de Prevenção do Diabetes. A norma prevê a realização de campanhas de divulgação e conscientização sobre a importância e a necessidade de medir regularmente e controlar os níveis glicêmicos.
“O tratamento do diabetes no sistema público melhorou muito nas últimas décadas. Sem dúvida, ainda existe alguma limitação. Por exemplo, equipe multiprofissional não é encontrada com muita frequência. O acesso à medicação básica tem sido coberto. Às vezes ocorre falha no fornecimento, atraso. De modo geral os medicamentos básicos são disponíveis. Pode melhorar, mas satisfaz as necessidades”, avalia o endocrinologista e professor da FMRP-USP, Laércio Joel Franco.